Olhos do Hórus

Somos tantos e tão poucos...anjos, quase todos loucos pela vida e pelo pão. Somos santos desalmados, mortos-vivos, mal-amados...deuses sem religião. Mas, pra quem quer achar saída, temos os trilhos da vida...pra quem quer seguir adiante, temos o melhor caminho... Somos todos peregrinos, passageiros clandestinos das vãs asas do destino...

Tuesday, September 12, 2006

Um textinho!

Vou começar a pôr alguns textinhos meus, alternado entre as coisas do cotidiano...especialmente quando não puder deixar posts redigidos do tempo real.

Esse aqui é pros orkuteiros, orkutistas, orkutólatras...como eu...


O labirinto dos caminhos escolhidos

Quando ouvi falar em Orkut pela primeira vez, hesitei em abrir o site para preencher o meu cadastro. Achei que seria mais um site sem muita utilidade, e que seria perda de tempo gastar mais tempo diante do computador (a linha final da frase é redundante, mas é consistente). O primeiro convite veio de uma amiga do Rio de Janeiro, e o segundo, três dias depois, da minha irmã. Em seguida surge mais outro convite. Comecei a estranhar, pois os convites partiam de pessoas que não eram meros internautas de mente fútil querendo brincar de achar novidades na internet…dentro de qualquer suspeita, o Orkut era sim uma novidade, uma grande novidade, mas diante dos convites quase simultâneos de mentes pouco suspeitas, instigou-me a novidade de conhecer o tal Orkut. Minha irmã deu-me uma dica rápida do esqueleto de suas funções: é uma espécie de site onde vc tem como encontrar um monte de amigos que não via há muito tempo e abrir comunidades, procurar comunidades do seu interesse…
Ok, um ótimo resumo…o suficiente para me convencer a bater na porta de entrada…fiz meu cadastro.
De repente, em poucas semanas, uma reviravolta muito inesperada passa a fazer parte daquela época…encontrei mais de três dezenas de amigos que já não sabia sequer o que faziam da vida, se estariam mesmo vivos. Amigos do tempo de escola, amigos de infância, amigos de épocas marcantes da minha vida. Comecei a acreditar que o Orkut possuía mesmo uma função e que a rápida fama e repercussão que ganhava não era em vão, era justificada.
Com o passar dos tempos fui começando a descobrir não só o lado da função social e afetiva que aquele instrumento virtual poderia suscitar/ressuscitar, mas descobri que poderia transformar também em objeto de utilidade…e passei a procurar comunidades.

Em algum tempo, descobri que o Orkut, para tantas outras pessoas, também não haveria de ser apenas um ponto de reencontro e novas amizades, ao encontrar pesquisadores e comunidades de interesse científico, sócio-cultural e artístico emaranhados entre os diversos cliques do teclado do computador e do mouse. Comunidades de pesquisadores de morcegos no Orkut? Comunidades de Charles Darwin? Ops, havia mais ali do que um mero site de reencontros. A coisa parecia mais complexa e dinâmica do que eu havia me sugerido.
Com dois anos de Orkut, ainda me surpreendo com a mágica plasticidade das reviravoltas proporcionadas pelos labirintos orkutianos… é uma bola de neve que não tem onde explodir…e cresce, e cresce e nos leva juntos e nos engole dentro da sua maquinaria viciante.
Mas o que mais me assusta ultimamente já não são as unidades que o alimentam, não são as facilidades de se conhecer gente, de se reencontrar pessoas. É o resultado de tudo isso.
De repente, num salto milimétrico me ponho dentro de uma comunidade qualquer, criada por um cidadão qualquer. E, sem me sentir um violador da privacidade alheia, vidas, atitudes e personalidades as mais diversificadas estão ali desfilando por entre os meus dedos e a tela do computador. E pouco a pouco, descubro que há um mundo de mundos diferentes dentro daquele fenômeno. Comunidades de adultos sensíveis e saudosos, revelando, sem cautela e sem censores, as lágrimas caídas por relembrar e escutar momentos de uma infância mágica nas canções da Turma do Balão Mágico, comunidades de adultos fúteis e infantis narrando e ensinando as atrocidades verbais, imorais e muito pouco éticas de como costumam tratar as mulheres. Comunidades de cientistas tentando transformar a ciência competitiva e por vezes elitista numa roda de amigos solidários, curiosos e sedentos por transformar em arte a aventura do conhecimento mútuo. Comunidades para acomodar os desastrados, os que odeiam a garotinha-propaganda da Embratel, os que amam dormir de conchinha, os que choram por tudo, os que amam seus irmãos, os que não são amados, dos que odeiam a tecla Caps Lock do computador…os contrastes não estão apenas no nome…seria muito pouco se fosse somente isso.
Os contrastes estão lá dentro, na essência, na individualidade que constrói, que une e sedimenta o perfil e o caráter de cada uma destas…nos seres humanos.

Para se ter um belo exemplo do que quero dizer, basta entrar em duas comunidades. Uma é a comunidade Balão Mágico (há mais de uma, talvez a essência de que quero falar esteja em todas elas), e outra é a comunidade dos Joselitos, mais precisamente dentro do tópico Joselitos sem noção…quem lê pelo menos duas páginas deste tópico e duas páginas de qualquer tópico no Balão Mágico vai saber fazer a diferença, perceber a diferença dos mundos que o Orkut é capaz de englobar…
E o mais incrível é se dar a percepção de que há mundos para todos dentro desse labirinto, mundos iguais e mundos diferentes. E cada um é capaz de escolher dentro de tantos caminhos nesse labirinto, qual o seu caminho e qual o seu mundo. É esse o óleo diesel que alimenta a maquinaria e que guarda dentro de cada peça uma dinamite e uma flor…e nos permite escolher qual queremos segurar.

1 Comments:

Blogger Helena said...

Graaaaaaande texto!!
Eu tbém resisti bastante ao orkut, até me convencer de que seria legal. E realmente está sendo!

6:51 PM  

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