Olhos do Hórus

Somos tantos e tão poucos...anjos, quase todos loucos pela vida e pelo pão. Somos santos desalmados, mortos-vivos, mal-amados...deuses sem religião. Mas, pra quem quer achar saída, temos os trilhos da vida...pra quem quer seguir adiante, temos o melhor caminho... Somos todos peregrinos, passageiros clandestinos das vãs asas do destino...

Tuesday, September 19, 2006

Esse texto aqui é uma prosazinha, ou sei lá do que chamar..escrita em 2002...
Queria fazer algo com ele...talvez um sambinha bem descarado, como os sambinhas dos morros cariocas...mas não sei se consigo...na verdade até já pus na fôrma (tempo e melodia)...falta consertar as bordas e assar..!


João Ninguém da Silva

Levanta pra cuspir o jejum de ontem à noite
Fila a média com pão na padaria da esquina
E vai vender flores, lindas cores, ainda vivas,
para os mortos do cemitério do comércio.
Esse é o João e, a cargo do seu nome, essa é sua sina.
Mal cabem seus pés no chão do ônibus,
cuja lotação é sempre ilimitada.
Mal cabe em si o João de desgosto ao encontrar uma paixão amarradeira:
uma antiga namorada
Um filho pendurado em cada braço, um guardado barriga adentro
e talvez, quem sabe, diz a regra, um planejado em pensamento.
Como se sua vida fosse o paraíso e o pão de cada dia fosse o vento.
E João desdenha o fato e lhe pergunta a hora.
Mas a mulher não o escuta e, se o escuta, o ignora.
Talvez reconhecesse naquele rosto envelhecido uma cicatriz pra vida inteira,
quando o João ainda novo, transformara em meta uma simples brincadeira,
pois pra matar a fome e pra ganhar a vida, João perdeu o rumo e foi bater carteira.
Mas hoje ele vive de quem morre, tendo as flores como o elo dessa trama.
E de quem a vida leva sete palmos terra abaixo,
João Ninguém da Silva segue a sorte do seu rumo,
levando pouco a pouco o troco desse drama.
Há quem diga que ele ainda toca a vida para a frente,
e acredita que um dia deixe de ser João Ninguém,
mas com as flores no caminho e levando o Silva com honra
ainda vire nessa vida um presidente.

1 Comments:

Blogger Tomando Nota said...

Muito legal, morcegão - como tudo que você faz. Mas... e o Lula? Ele nunca bateu carteira, mas os asseclas dele estão estourando a boca do balão: só é de banco pra cima. Carteira é coisa de otário.
Pena que isso aconteça exatamente com um presidente que vem do povo. Acho que o próprio partido é o seu grande inimigo ou seja: povão não tem jeito - odeia povão, gosta é do chicote da burguesia.
Jogue duro e bote uma música que vai ser o maior SU.

10:34 AM  

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