Olhos do Hórus

Somos tantos e tão poucos...anjos, quase todos loucos pela vida e pelo pão. Somos santos desalmados, mortos-vivos, mal-amados...deuses sem religião. Mas, pra quem quer achar saída, temos os trilhos da vida...pra quem quer seguir adiante, temos o melhor caminho... Somos todos peregrinos, passageiros clandestinos das vãs asas do destino...

Friday, October 27, 2006

Asas fiéis em mais um outubro...


Mais um outubro...primavera alternada entre chuvas repentinas e um Sol tentando se erguer num céu azul...
20 de outubro de 2006..começa o período de visitas "check-up" aos 4 pontos de pouso/caça do falcão, para vistoriar a área e confirmar o dia exato da sua chegada...
Ladeiras do alto do Pacheco, torres, catedral...Catedral, torres, ladeiras...já estava sentindo falta dessa rotina, dessa rota...
Nem sinal do Falco...bom sinal...a minha previsão para a chegada é justamente essa...para entre o dia 20 e o dia 30 de outubro...ou no máximo alguns dias atravessando a primeira semana de novembro...
Criar previsões para o imprevisível pra mim virou uma rotina...e pra falar a verdade, em relação aos Falco peregrinus, felizmente, sempre tenho acertado...ao menos nisso, nunca o jogo dos dados lançados antes do tempo me traiu!
E depois de 6 dias de check-up de rotina para garantir o dia D da chegada, ganho novamente na loteria do tempo e da confiança na fidelidade precisa do peregrino...
27 de outubro...uma checada na catedral, a olho nu, numa distância de 600 metros...e..Bingo! Minha visão não costuma me trair, por mais distante que precise enxergar...e num pulo dos olhos atentos, lá vejo o viajante, recém-chegado, empoleirado, como de hábito, sobre uma das colunas das torres da Catedral de São Sebastião, cartão postal da cidade.
E lá vou eu...câmera, baterias, tripé de mesa, binóculo adaptado para câmera, caderno de notas e, claro...uma canetinha básica. E meu celular sagrado, onde guardo hora, tempo e algo mais que for preciso...
Sol forte...céu limpo...se por um lado é tudo que eu preciso, por outro, a posição do Sol em nada me ajuda...difícil regular o foco, difícil olhar pra frente não tendo que olhar o sol...quem tem fotofobia e trabalha com fotos externas, especialmente com imagem que exija golpe de vista para improvisar um foco com câmera sem foco alternado bem sabe o que quero dizer... E lá vou eu me esgueirar num canto quase ao nível do chão, na ruazinha calma ao lado da Catedral, para ganhar um mínimo de privilégio num ponto onde o Sol não desponte contra a mira dos meus olhos/câmera, mas o falcão esteja perfeitamente exposto.
É importante fazer um bom registro do primeiro dia...é uma espécie de suporte, de garantia de não sei o que...um prazerzinho diferente...
Consigo enfim, fazer algumas fotos, não como eu bem queria...mas fiz. A elegância do bicho pede que a foto tenha um mínimo de dignidade capaz de não trair o seu objeto de exposição...não é a toa que o falcão peregrino é a ave dos reis, é a ave de rapina mais querida, mais apreciada e considerada a mais bela entre as aves. Mas hoje, as fotos me traíram...maldita ausência de suporte que me favorecesse ajustar com mais firmeza, na altura certa, a câmera e o binóculo adaptado para a lente.
Mas vou tirar isso de letra...consegui ao menos uns registros mais ou menos gratificantes...e voltei pra casa bronzeado...haja Sol para um 27 de outubro...
Hoje, infelizmente o peregrino não deu seu show...não caçou...apenas ficou no seu merecido repouso de sombra, depois de possíveis 30 dias cruzando os céus em uma jornada de mais de 15.000km de sua terra-natal.

Enfim...voltei pra casa, saí de novo e dei meu troco...comprei um belo de um tripé de verdade, ajustável para mais de um metro de altura, com suporte móvel ajustável para todas direções...era apenas isso que eu precisava...o resto fica por conta da sorte...e do tempo...porque já sei...conseguir driblar a sobrecarga dos demais compromissos vai ser tarefa mais complicada que correr atrás de peregrino pra ver desfecho de perseguição entre arranha-céus pitubenses...
Enquanto isso, o primo-dia fica aqui estampado, abaixo. Até mais!