Olhos do Hórus

Somos tantos e tão poucos...anjos, quase todos loucos pela vida e pelo pão. Somos santos desalmados, mortos-vivos, mal-amados...deuses sem religião. Mas, pra quem quer achar saída, temos os trilhos da vida...pra quem quer seguir adiante, temos o melhor caminho... Somos todos peregrinos, passageiros clandestinos das vãs asas do destino...

Tuesday, September 19, 2006

UMA CANÇÃO EM TEMPO PRESENTE
Sávio Drummond, novembro de 2004


Quem fará a canção dos nossos tempos, anos 90, anos 2000?
Que traduza a transparência cega dos nossos dias, que ensine aos filhos do futuro a nostalgia de ouvir um passado que não te pertence.
Que fale, como falaram um dia, nas entrelinhas, sutil e avidamente, de um Brasil anos 60, de um exílio, do silêncio lúcido dos loucos nas esquinas, a testemunhar uma guerra vã politizada.
Haverá uma canção para falar da política dissolúvel e teatral, dos poucos heróis a morrerem honrados ou de índios queimados pelas ruas da capital arquitetada por um sonhador?
Ouvirão, aqueles que estão por vir, uma melodia a falar de um presidente estadunidense desprezado pelo povo da nação mais patriota do mundo? Ou de uma guerra teleguiada pelos gritos injustos das incertezas? Ou de decapitações em série transbordando o mar invisível da internet qual cartas de amor nos tempos em que amar não era teatro e nem tampouco brega?
Se ouvirá, quem sabe, no bar da esquina, a narrativa em tom maior de um ex-metalúrgico no trono presidencial, viciado em auto-publicidade pseudo-modernista trtavestida em bonés coloridos, skates radicais, guitarras e embaixadinhas frustradas?
Ou de crimes altamente organizados nas favelas e no senado, como já se ouviu um dia.
Alguma canção, qualquer que seja, martirizará o Sol que seca os farrapos em um varal das novas favelas?
O mesmo Sol a enrubescer o rosto de um papa já trêmulo e corcunda a pedir perdão, rodeado pela luxúria áurea dos tiranos, proferindo inconsistente seu derradeiro latim.
Há que se fazer a canção dos nossos tempos, antes que o sol se ponha, antes que o tempo passe, e já não nos sobre tempo para ouvir uma canção.

Momento de descontração!
Divirtam-se..rsrs!
(obs: não preciso dizer que esse não fui eu que escrevi...quem dera ter dom de inventar essas coisas!)


DEPOIMENTO DO MANOEL

Seu Manuel pensou melhor e decidiu que os ferimentos
que sofreu num acidente de trânsito eram sérios o suficiente
para levar o dono do outro carro ao tribunal.

No tribunal, o advogado do réu começou a inquirir seu
Manuel:
* O Senhor não disse na hora do acidente: "Estou muito
bem"?

E Manuel responde:
* Bem, vou lhe contar o que aconteceu. Eu tinha acabado
de colocar minha mula favorita na caminhonete..

* Eu não pedi detalhes! - interrompeu o advogado - Só
responda à pergunta:
O Senhor não disse na cena do acidente: "Estou muito
bem"?

* Bem, eu coloquei a mula na caminhonete e estava
descendo a rodovia...

O advogado interrompe novamente e diz:
* Meritíssimo, estou tentando estabelecer os fatos
aqui. Na cena do acidente
este homem disse ao patrulheiro rodoviário que estava
bem. Agora, várias semanas após o acidente ele está tentando
processar meu cliente, e isso é uma fraude.

* Por favor, poderia dizer a ele que simplesmente
responda à pergunta?

Mas, a essa altura, o Juiz estava muito interessado na
resposta de seu Manuel e disse ao advogado:
* Eu gostaria de ouvir o que ele tem a dizer."

Seu Manuel agradeceu ao Juiz e prosseguiu:
* Como eu estava dizendo, coloquei a mula na
caminhonete e estava descendo a rodovia quando uma
pick-up atravessou o sinal vermelho e bateu na minha
caminhonete bem na lateral. Eu fui lançado fora do
carro para um lado da rodovia e a mula foi lançada pro outro lado.
Eu estava muito ferido e não podia me mover. De qualquer forma,
eu podia ouvir a mula zurrando e grunhindo e, pelo barulho,
eu pude perceber que o estado dela era muito ruim.
Logo após o acidente, o patrulheiro rodoviário chegou ao local.
Ele ouviu a mula gritando e zurrando e foi até onde ela
estava. Depois de dar uma olhada nela, ele pegou a arma e
atirou bem entre os olhos do animal.
Então, o policial atravessou a estrada com sua arma na
mão, olhou para mim e disse:
"Sua mula estava muito mal e eu tive que atirar nela.
Como o senhor está se sentindo? "

O que o Sr. falaria meritíssimo ??

Esse texto aqui é uma prosazinha, ou sei lá do que chamar..escrita em 2002...
Queria fazer algo com ele...talvez um sambinha bem descarado, como os sambinhas dos morros cariocas...mas não sei se consigo...na verdade até já pus na fôrma (tempo e melodia)...falta consertar as bordas e assar..!


João Ninguém da Silva

Levanta pra cuspir o jejum de ontem à noite
Fila a média com pão na padaria da esquina
E vai vender flores, lindas cores, ainda vivas,
para os mortos do cemitério do comércio.
Esse é o João e, a cargo do seu nome, essa é sua sina.
Mal cabem seus pés no chão do ônibus,
cuja lotação é sempre ilimitada.
Mal cabe em si o João de desgosto ao encontrar uma paixão amarradeira:
uma antiga namorada
Um filho pendurado em cada braço, um guardado barriga adentro
e talvez, quem sabe, diz a regra, um planejado em pensamento.
Como se sua vida fosse o paraíso e o pão de cada dia fosse o vento.
E João desdenha o fato e lhe pergunta a hora.
Mas a mulher não o escuta e, se o escuta, o ignora.
Talvez reconhecesse naquele rosto envelhecido uma cicatriz pra vida inteira,
quando o João ainda novo, transformara em meta uma simples brincadeira,
pois pra matar a fome e pra ganhar a vida, João perdeu o rumo e foi bater carteira.
Mas hoje ele vive de quem morre, tendo as flores como o elo dessa trama.
E de quem a vida leva sete palmos terra abaixo,
João Ninguém da Silva segue a sorte do seu rumo,
levando pouco a pouco o troco desse drama.
Há quem diga que ele ainda toca a vida para a frente,
e acredita que um dia deixe de ser João Ninguém,
mas com as flores no caminho e levando o Silva com honra
ainda vire nessa vida um presidente.

Wednesday, September 13, 2006


Caranguejeirinhas jovens, encontradas sob rochas e troncos, em Itamaraju-Ba, Setembro de 2006. Foto: Dimitri Padilha.


Para o visitante desse blog...não há criatura feia ou repugnante...há sim uma beleza que não estamos acostumados a contemplar... Linda caranguejeira(possivelmente Grammostola sp.), fotografada em Itamaraju-Ba, em setembro de 2006. Foto: Sávio Drummond.(Clique na foto para vê-la ampliada)


No fundo, somos todos um pouco cavaleiros, camponeses, pastores desses vastos campos de sonhos servis...cavalgando o tempo, semeando sonhos, pastoreando o acaso...

Tuesday, September 12, 2006

Para preservar a magia

Vamos tentar ouvir o som do presente instante
Vamos esquecer a cor do diamante
Vamos lembrar que os olhos brilham sem explicação
Porque há explicações que destroem o sentido mais puro
Porque há valores escondidos na janela d’alma
E no último segundo da despedida o adeus perde o rumo,
E no último instante, o coração deixa uma porta entreaberta
para quem quiser entrar escondido, sem avisar
Vamos sentir o eco da pulsação
Rimar o tom da chuva com o blues do coração
Vamos imaginar um mundo no ínfimo grão da areia
Eis ali o entender da plena existência, sem erros nem acertos
Vamos fazer inédito o quotidiano retilíneo,
semear cores novas no que desbotou pelo desgaste dos segundos vãos
Sentir a vibração da nave-mãe a nos levar no tempo-espaço,
Sem medir segundos ou quilômetros
Porque há razões que não precisam ser lembradas
Ou faltará o ar para alimentar a magia
Vamos olhar de perto o pequeno verme a navegar no chão,
feliz por não ter que racionalizar sua existência,
Descobrir no seu íntimo a essência única do ser,
sem ideogramas, cronometragem, sem analogias, sem modismos,
sem precisar sonhar com o que não terá um dia
Vamos ouvir calados a sinfonia dos ventos nos vitrais
Numa catedral, numa fábrica, num apartamento escuro, no meio dos arranha-céus.
Ou faltará a magia pra alimentar os ventos,
Ou faltarão os ventos para mover o moinho dos nossos sonhos.


Do Tempo dos Sonhos (ou Carta para ser guardada na última gaveta)


Vê. Ainda trago nos olhos aquele brilho que um dia vistes.
Talvez sem tanta certeza no olhar. Mas ainda brilham.
Meu pequeno mundo ainda cabe no canto escuro do porão.
E continuam vivos aqueles tantos sonhos que sonhei um dia.
Decerto já nem são mais tantos, mas ainda estão guardados,
no fundo abismo da esperança vã. Adormecidos pela canção do tempo.
Aquela fotografia resiste, entre os papéis de outros passados,
pobre refém do meu medo de mudar as coisas.
E o mais difícil é entender porque, se no meu silêncio as imagens não tem tempo,
e a voz que ainda ecoa já não é a que eu queria.
Quem sabe um dia, sem medo, nossos destinos se encontrem novamente.
E a nossa vida gire feito um jogo, feito criança, o carrossel da nossa infância.
E o tempo avise que sonhar não é preciso, e que o fruto que deixamos voltou a ser semente.
Voltassem então os velhos vícios de achar no tom toda a magia de cada erro e cada acerto.
A velha estrada unindo a mesma sina, e os mesmos passos caminhando para um mesmo fim.
Sem o cais a nos dizer que é hora de voltar, de chegar, de temer o horizonte mais distante.
Minha poesia está mais pobre, tenta respirar a pouca loucura que me resta.
Já nem escrevo cartas, não penso em mudar minha feia caligrafia. Muito menos o mundo.
Pouco a pouco, com uma coragem incerta, tenho cantado minhas canções,
fiéis testemunhas da minha timidez.
Mas, além dos riscos, por trás das luzes, rasgando a superfície do meu pequeno dia-a-dia,
Ainda sou eu a escrever essas linhas, sem razão, sem pressa, sem rimas, sem ensaios, sem enredo.
Tentando imitar as curvas do tempo, tentando traduzir a vida. Torto, mas lúcido: como há de ser.



Do tempo dos sonhos II

Vê, mais uma vez o tempo é rei e escravo
Quem dera sermos nós naqueles tempos, quem dera fôssemos filhos
De ventos de moinhos que um dia giraram por nós
Quais flores ainda passam pelos nossos jardins?
Se hoje são tanto mais pedras que a vida que um dia por ali passou?
Quem herdará nossos cantos, quem fará vibrar o tom da voz dos que virão,
Se do tempo que nos sobra tão pouco há para se fazer cantar?

Agora, além dos medos, pairam anjos, cupidos desistentes, cadentes esperanças,
deuses ateus e descrentes, sobre o vão dos nossos céus
Quem dera sermos mais, sermos os filhos e pais do sonho que se plantou
Quem dera, talvez, sermos tanto que nem mesmo nosso canto pudesse se traduzir
Ai do cais, que aprendeu a não se despedir dos que se vão,
Ai de nós, que nunca aprenderemos com o cais que os tempos que se vão já não nos voltam mais.

Palavras

Palavras são palavras
São cortes na garganta
Que rompem o silêncio
São gritos dentro d’alma
Ganhando a liberdade
São grãos do pensamento
Que vagam pelo ar

Foto: Sávio Drummond

Outro textinho, escrito em 1999

Ateu

Achei um louva-a-deus no jardim de casa. Foi inconfundível reconhecê-lo. Foi inevitável tê-lo nas mãos. Talvez represente o louva-a-deus o meu maior fascínio no mundo dos insetos, meu elo com os futuros guardiães da Terra. Era um pequeno ser verde. Um corpo totalmente mimetizado, uma obra-prima tingida magicamente pelas mãos pacientes da evolução. Não, não era uma folha! Poderia ser, mas seus olhos brilhavam como orvalho no topo da pequena cabeça triangular, e cada olho, humanamente, parecia carregar consigo uma espécie de pupila, direcionada para o nada, parecendo perceber tudo.
Mas não por isso era um louva-a-deus. Era um louva-a-deus porque carregava nos seus braços uma prece, uma prece dissimulada, traiçoeiramente dissimulada. Uma prece fatal. Uma reza a deus nenhum, mas para si próprio, para garantir em frações de milésimos de segundos a sua existência. Suas mãos não traziam flores, mas espinhos, afiados e moldados, mais uma vez pelas mãos humildes da evolução. Suas asas traziam falsos olhos. Olhos amavelmente inofensivos. Inocentemente malignos. Mas ainda era um louva-a-deus. O mito não morreria tão cedo assim. E por ser tanto, carregava consigo um estigma. Que tão imperdoável pecado cometera, para suplicar por tanto perdão? Em que tão insignificante coração repousaria tanta fé ?
Pensando na sua verdade por trás daquela prece, resolvi dar-lhe um alimento. Um gafanhoto. Um infeliz gafanhoto. Tão infeliz que não seria jamais um louva-a-deus...
A guerra das necessidades ganhou seu espaço naquele instante. E num momento quase imperceptível o louvor-ateu justificou suas causas. E Deus, de onde estivesse, perdoou aquele instante. Talvez enxergasse naqueles pequenos olhos tamanha inocência naquele ato. Talvez enxergasse naquele ser a sua imagem e perfeição, seu melhor ator no teatro da vida. Sem máscaras, sem drama, sem enredo algum.

Um textinho!

Vou começar a pôr alguns textinhos meus, alternado entre as coisas do cotidiano...especialmente quando não puder deixar posts redigidos do tempo real.

Esse aqui é pros orkuteiros, orkutistas, orkutólatras...como eu...


O labirinto dos caminhos escolhidos

Quando ouvi falar em Orkut pela primeira vez, hesitei em abrir o site para preencher o meu cadastro. Achei que seria mais um site sem muita utilidade, e que seria perda de tempo gastar mais tempo diante do computador (a linha final da frase é redundante, mas é consistente). O primeiro convite veio de uma amiga do Rio de Janeiro, e o segundo, três dias depois, da minha irmã. Em seguida surge mais outro convite. Comecei a estranhar, pois os convites partiam de pessoas que não eram meros internautas de mente fútil querendo brincar de achar novidades na internet…dentro de qualquer suspeita, o Orkut era sim uma novidade, uma grande novidade, mas diante dos convites quase simultâneos de mentes pouco suspeitas, instigou-me a novidade de conhecer o tal Orkut. Minha irmã deu-me uma dica rápida do esqueleto de suas funções: é uma espécie de site onde vc tem como encontrar um monte de amigos que não via há muito tempo e abrir comunidades, procurar comunidades do seu interesse…
Ok, um ótimo resumo…o suficiente para me convencer a bater na porta de entrada…fiz meu cadastro.
De repente, em poucas semanas, uma reviravolta muito inesperada passa a fazer parte daquela época…encontrei mais de três dezenas de amigos que já não sabia sequer o que faziam da vida, se estariam mesmo vivos. Amigos do tempo de escola, amigos de infância, amigos de épocas marcantes da minha vida. Comecei a acreditar que o Orkut possuía mesmo uma função e que a rápida fama e repercussão que ganhava não era em vão, era justificada.
Com o passar dos tempos fui começando a descobrir não só o lado da função social e afetiva que aquele instrumento virtual poderia suscitar/ressuscitar, mas descobri que poderia transformar também em objeto de utilidade…e passei a procurar comunidades.

Em algum tempo, descobri que o Orkut, para tantas outras pessoas, também não haveria de ser apenas um ponto de reencontro e novas amizades, ao encontrar pesquisadores e comunidades de interesse científico, sócio-cultural e artístico emaranhados entre os diversos cliques do teclado do computador e do mouse. Comunidades de pesquisadores de morcegos no Orkut? Comunidades de Charles Darwin? Ops, havia mais ali do que um mero site de reencontros. A coisa parecia mais complexa e dinâmica do que eu havia me sugerido.
Com dois anos de Orkut, ainda me surpreendo com a mágica plasticidade das reviravoltas proporcionadas pelos labirintos orkutianos… é uma bola de neve que não tem onde explodir…e cresce, e cresce e nos leva juntos e nos engole dentro da sua maquinaria viciante.
Mas o que mais me assusta ultimamente já não são as unidades que o alimentam, não são as facilidades de se conhecer gente, de se reencontrar pessoas. É o resultado de tudo isso.
De repente, num salto milimétrico me ponho dentro de uma comunidade qualquer, criada por um cidadão qualquer. E, sem me sentir um violador da privacidade alheia, vidas, atitudes e personalidades as mais diversificadas estão ali desfilando por entre os meus dedos e a tela do computador. E pouco a pouco, descubro que há um mundo de mundos diferentes dentro daquele fenômeno. Comunidades de adultos sensíveis e saudosos, revelando, sem cautela e sem censores, as lágrimas caídas por relembrar e escutar momentos de uma infância mágica nas canções da Turma do Balão Mágico, comunidades de adultos fúteis e infantis narrando e ensinando as atrocidades verbais, imorais e muito pouco éticas de como costumam tratar as mulheres. Comunidades de cientistas tentando transformar a ciência competitiva e por vezes elitista numa roda de amigos solidários, curiosos e sedentos por transformar em arte a aventura do conhecimento mútuo. Comunidades para acomodar os desastrados, os que odeiam a garotinha-propaganda da Embratel, os que amam dormir de conchinha, os que choram por tudo, os que amam seus irmãos, os que não são amados, dos que odeiam a tecla Caps Lock do computador…os contrastes não estão apenas no nome…seria muito pouco se fosse somente isso.
Os contrastes estão lá dentro, na essência, na individualidade que constrói, que une e sedimenta o perfil e o caráter de cada uma destas…nos seres humanos.

Para se ter um belo exemplo do que quero dizer, basta entrar em duas comunidades. Uma é a comunidade Balão Mágico (há mais de uma, talvez a essência de que quero falar esteja em todas elas), e outra é a comunidade dos Joselitos, mais precisamente dentro do tópico Joselitos sem noção…quem lê pelo menos duas páginas deste tópico e duas páginas de qualquer tópico no Balão Mágico vai saber fazer a diferença, perceber a diferença dos mundos que o Orkut é capaz de englobar…
E o mais incrível é se dar a percepção de que há mundos para todos dentro desse labirinto, mundos iguais e mundos diferentes. E cada um é capaz de escolher dentro de tantos caminhos nesse labirinto, qual o seu caminho e qual o seu mundo. É esse o óleo diesel que alimenta a maquinaria e que guarda dentro de cada peça uma dinamite e uma flor…e nos permite escolher qual queremos segurar.

Um olhar sobre os arranha-céus
(
12/02/2004 )

Ok, depois de uma semana em outras paragens, uma pausa para respirar dentro do ninho... Quem me conhece um pouco deve (aliás talvez não deva) esperar que eu saia sem deixar rastros, suma e volte...acho que isso não é muito bom...mas com tanto tempo sobrando acaba faltando-me tempo pra fazer todas as coisas que me são necessárias pra ter a plena impressão (ou uma incompleta certeza) de que não estou perdendo meu tempo... Hoje passei um bom tempo da minha manhã sobre o terraço de um edifício de 22 andares, situado numa área de grandes prédios, mais ou menos próximos à orla de Salvador. Estava observando, registrando, estudando, enamorando o falcão peregrino que eu acompanho...ele vem do Norte da América do Norte e migra para Salvador todo fim de outubro, permanecendo aqui até abril. Desde 1997 acompanho esse falcão e é uma das experiências mais interessantes de se viver em meio à rotina do bélico cotidiano humano-urbano. Mas essa estória eu vou contar depois. O que quero dizer é que ao sentar nas telhas de amianto do terraço e me dar a liberdade de observar por longas horas aquele falcão peregrino, passei a vislumbrar também a liberdade que se pode ter ao olhar para a cidade lá embaixo...minúsculos carros cruzando a avenida, buzinas ecoando entre os arranha-céus, um céu azul singular, e, por trás da penumbra das casas mais altas um mar que nos põe a questionar porque aquela imensidão infinda nos é tão inalcançável...um tapete azul refletindo o céu, margeando nosso olhar até onde podemos ver. Ao olhar para a vida, para os rios de asfalto ali embaixo, num dado instante vem a sensação de ter conseguido sair de uma máquina estranguladora, de ter conseguido rasgar uma pele falsa que nos cobre ou que construímos para nos camuflar tal qual nossa vida antropofágica exige. Num instante a sensação de sentar sobre o mais alto ponto entre os arranha-céus, onde a ritmada, mas desafinada orquestra urbana é amortecida pelo vento e (entretanto, também, infelizmente) pelo ruído estridente da máquina do elevador nos remete a um estado que não nos é conhecido quando estamos dentro de um ônibus, no meio do engarrafamento, pagando a conta de luz e água, reclamando da demora na fila do banco ou do supermercado, andando e olhando para os lados para ter a garantia de que não está prestes a ser vítima de um assalto. Ao olhar para o vôo elegante e impecável do falcão peregrino e saber que estou olhando para um animal que atravessou mais de 12.000 km para chegar até aqui, pego-me sob um sentimento de privilégio...o via sempre em documentários da TV e admirava desde criança os vôos velozes e acrobáticos daquela ave linda a perseguir seu alimento e executar um balé aéreo que deixaria a mais elegante bailarina cabisbaixa. De repente não por acaso lá estava eu, lá estávamos nós, na mesma altura, entre os arranha-céus, aproveitando sob o mesmo ar um dia dos mais limpos e ensolarados que já passei nessa cidade...o peregrino era eu, arriscando peregrinar além do meu cotidiano, esquecendo por alguns instantes a conta do banco, a fila no supermercado, quanto custa o pão de cada dia. E antes que eu me despedisse, o falcão voou embora, porque também era preciso me lembrar que a magia da vida é não esperar o imprevisível...ainda que sentado sob o mesmo sol de todos os dias... Amanhã talvez eu volte...mas é bom não transformar em rotina, senão o templo da magia é destruído.


Fiquei devendo a imagem do Hórus abaixo do texto...aí está.

Resgatando...

os posts do antigo blog...

Arranhando a primeira página....como diz um amigo: rascunhos definitivos!


Ok, já que entrei, vamos lá....após as 23:00h de um dia cansativo é difícil pensar no que pensar....que dirá no que escrever. Mas acho que esse blog não vai virar um diário de bordo...talvez vire um livro de ficção...talvez vire lixo...talvez eu coloque aqui a raiva que tenho sentido dos americanos...será que é proibido falar dessas coisas num Blog? Será que Bushit vai mandar me matar? Ops, não é bom começar um Blog xingando...ora bolas, que dirá xingar em inglês...Sorry, but my mind is in slow motion now! Talvez estejam querendo saber porque Olhos de Hórus. Dêem então uma olhada na imagem a seguir. Este é o Hórus, pra quem não sabe, a forma zooantropomórfica de um deus egípcio. O Hórus é caracterizado pelo zooantropomorfismo de um falcão, ao que tudo indica um Falco peregrinus. Achei então conveniente adotar tão interessante ícone como inspiração para entitular meu Blog, já que sou biólogo e estudo o comportamento de falcões peregrinos que migram da América do Norte para o território brasileiro. Por outro lado a adoção do Hórus vem da expressão simbólica daquilo que transcende a nossa essência e nosso entendimento...o olho do que não vemos...vemos apenas as esquinas invisíveis nesse mundo impalpável, porém magicamente real que é a nossa Internet... Este são os Olhos do Hórus....enxergando além do visível! Até mais!

Setembro...

Setembro...mês das mudanças...na terra, as folhas escassas do inverno (no Brasil, nem tanto...) cedem lugar para as flores da primavera. E no céu, os peregrinos, nômades dos ventos, iniciam sua longa jornada rumo ao refúgio onde baterão suas asas até o brotar do próximo sol outonal.
Depois de um bom tempo sem pousar no ninho, eis que volto...e encontro o ninho destruído...minha senha e meu login já não estão mais funcionando para o Olhos do Hórus antigo. Então, resolvi criar uma página nova, com o mesmo nome. Mas, vou resgatar para cá os textos de lá...só pra não morrerem no espaço vão do labirinto virtual. Tentarei aos poucos postar aqui com mais freqüência do que antes...histórias, textos, sites legais, idéias, pensamentos, a vida e seu curto-circuito contínuo. Enfim...que esse blog nao venha a virar, como o outro, mais um livro de cabeceira de um fabricante de botões de colarinho para casacas de defunto. Abreijos! Vamos ver o que sai agora por aqui...!